MELHOR DO QUE O MPLA SÓ O PETRÓLEO (DO MPLA)

Em Outubro o kwanza desvalorizou 10,5% face ao dólar devido à menor produção de crude. Porém, durante 2022, a divisa angolana tem-se valorizado face à moeda norte-americana, segundo Lima Massano, governador do Banco Nacional de Angola.

O governador do banco central angolano disse hoje, na província do Uíje, que uma queda na produção petrolífera no último trimestre deste ano originou, no mês de Outubro, a uma depreciação do kwanza em relação ao dólar.

José de Lima Massano falava numa conferência de imprensa no final da 108.ª sessão ordinária do Comité de Política Monetária do Banco Nacional de Angola (BNA).

Segundo José de Lima Massano, registou-se uma pressão sobre a moeda nacional, que causou uma perda de valor de cerca de 10,5% em relação ao dólar. Contudo, o kwanza, ao longo do ano, tem mantido uma apreciação em relação à moeda norte-americana.

“De facto o que assistimos no mês de Outubro foi uma alteração, uma variação, que nós também consideramos de alguma forma acentuada e por isso preferimos alargar o período de observação para eventualmente tomarmos medidas do lado da política monetária, no que se refere às taxas de juro, para contrapormos esse efeito e continuarmos sobretudo a assegurar que o curso de redução da inflação se mantenha”, referiu.

Em Outubro, acrescentou o governador do BNA, o sector petrolífero registou uma queda de cerca de 16,5% nas receitas de exportação, no terceiro trimestre deste ano, concretamente de 1,6 mil milhões de dólares (1,5 mil milhões de euros).

“Foi uma queda forte, tivemos uma quebra nas exportações que acabaram por trazer-nos menos cambiais para a economia e com isso o mercado ajustou-se, o que nós temos hoje é uma taxa de câmbio que é regulada por forças da oferta e procura e tendo ocorrido uma redução na oferta, o mercado ajustou-se”, salientou.

De acordo com o governador do BNA, ao longo deste mês também se tem registado “uma pressão mais ligeira”, com uma variação da moeda nacional de cerca de 5%.

“Mais branda do que aquilo que tivemos no mês de Outubro, o que também sinaliza de que de alguma forma esse efeito poderá estar a ser já atenuado, com os desenvolvimentos mais recentes, que foi uma reposição, por assim dizer, por parte dos principais vendedores de divisas do nosso mercado, dos níveis que traziam anteriores a Outubro”, frisou.

Para José de Lima Massano, significa que o próprio mecanismo de ajustamento actual da taxa de câmbio eliminou aquelas situações vividas no passado, em que uma variação como a que se assistiu particularmente no mês de Outubro, causaria “um verdadeiro stresse, uma incapacidade de as operações serem realizadas”.

“De termos que encontrar caminhos alternativos para fazer os pagamentos sobre o exterior, vermos as operações acontecerem no mercado informal, nada disso ocorreu. O que aconteceu foi: a taxa de juro ajustou-se e o mercado continuou a funcionar”, sublinhou.

José de Lima Massano disse que a expectativa é que com a reposição dos níveis de exportação que o mercado venha a encontrar rapidamente equilíbrio e voltar a um cenário em que, ocorrendo variações, que elas sejam mais ligeiras.

BANCA EM ALTA E PETRÓLEO TAMBÉM

Enquanto os lucros da banca angolana aumentam 295% em 2021, Angola arrecadou uma receita bruta de 2022, de 10,2 mil milhões de dólares (10,34 mil milhões de euros), com a exportação de mais de um milhão de barris de petróleo bruto, no terceiro trimestre de 2022, informou no passado dia 25 de Outubro o Governo.

De acordo com os dados do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás sobre as exportações de petróleo bruto e gás no terceiro trimestre de 2022, os preços das ramas angolanas e do Brent, no período em referência, tiveram uma tendência decrescente.

O documento indica que a média trimestral do preço das ramas angolanas foi de 101,6 dólares (94,8 euros) o barril de petróleo, enquanto a média do Brent foi de 100,8 dólares (94,1 euros).

“O volume exportado representa um decréscimo de 3,35% comparativamente ao trimestre anterior e um aumento de 1,77% em relação ao trimestre homólogo de 2021”, refere o balanço.

A apresentação sublinha que influenciaram os preços de forma negativa vários factores, entre os quais as preocupações relacionadas com as novas medidas de confinamento na China, o regresso da produção líbia ao mercado, e de forma positiva, a decisão da União Europeia em reduzir a importação do petróleo russo em 90% até ao final do ano.

“Quanto ao preço médio das ramas angolanas verificou-se uma diminuição de 10,73% comparativamente ao segundo trimestre de 2022 e um aumento de 38,46% em relação ao período homólogo de 2021”, adianta o documento.

As exportações foram lideradas pela Agência Nacional de Petróleo e Gás (27,11%), seguida da Sociedade Angolana de Combustíveis e Angola (Sonangol) (14,29%), destacando-se entre as companhias internacionais a TotalEnergies (14,43%), Esso (8,26%), SSI (7,46%), BP (6,78%) Equinor (6,64%), ENI (6,63%) e Cabgoc (5,55%). As principais ramas comercializadas foram a Mostarda (11,20%), Dália (11,14%), Clov (10,74%), Nemba (9,48%) e Pazflor (7,58%).

A China continua a liderar a lista de países de destino das exportações de petróleo angolano, com 45,37%, seguida da Índia, com 9,66%, da França, com 9,45%, Canadá, com 6,84%, e Espanha, com 6,73%.
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Relativamente às exportações de gás e condensados, no período em análise foram exportados mais de um milhão de toneladas métricas, com um encaixe de 2,1 mil milhões de dólares (1,9 mil milhões de euros), representando um aumento de 12,14% comparativamente ao segundo trimestre do ano em curso e uma diminuição de 12,82% do volume exportado no período homólogo de 2021.

O documento indica que foram exportadas 825,21 mil toneladas métricas de LNG (Gás Natural Liquefeito), ao preço médio de 2,4 milhões de dólares (2,2 milhões de euros), 38,06 mil toneladas métricas de butano, ao preço médio de 507 mil dólares (473 mil euros), 130,42 mil toneladas métricas de propano, ao preço médio de 496 mil dólares (463 mil euros), e 66,66 mil toneladas métricas de condensados, ao preço médio de 560 mil dólares (523 mil euros).

O LNG teve como principais destinos a Holanda (41,53%), a Índia (25,68%) e a Espanha (24,48%), enquanto o butano e propano tiveram como principais compradores a China (99,07%) e a República Democrática do Congo (0,93%), para o primeiro produto, e a Bélgica (33,77%) e a China (32,78%), para o segundo produto.

No que se refere aos condensados, a Bélgica foi o principal destino de exportação deste produto.

Noutra frente, os resultados líquidos da banca angolana aumentaram 295% em 2021 para um valor de 592.402 milhões de kwanzas (1,3 mil milhões de euros), com o Banco Económico (BE) a recuperar dos prejuízos e a liderar a tabela.

Os dados constam do estudo “Banca em Análise 2022”, da consultora Deloitte, apresentado em Luanda. O estudo analisa em detalhe os 25 bancos que operam no sistema financeiro angolano tendo em conta a performance em vários indicadores financeiros.

Para o crescimento dos resultados líquidos foi decisiva a melhoria do ‘rating’ de Angola e consequente reversão de perdas por imparidade, bem como a variação positiva dos resultados do Banco de Poupança e Crédito (BPC), apesar de serem negativos, e do BE que registou o maior lucro entre os bancos analisados, após dois anos de prejuízos avultados, justifica o documento.

O resultado líquido foi atenuado “pela descida significativa dos resultados cambiais que reduziram em 2021 cerca de 96%” (dados que excluem o BE por indisponibilidade de informação).

Excluindo o BPC e o BE da análise, os resultados líquidos em 2021 registaram ainda assim um aumento de 40% face ao ano anterior, indicando a tendência de recuperação na banca.

No top cinco dos bancos mais lucrativos em 2021 ficaram o Banco Económico, o Banco de Fomento Angola (BFA), o Banco Angolano de Investimento (BAI), o Standard Bank e o banco BIC.

Entre os bancos que registaram prejuízos, além do público BPC, estão também o Keve, Banco de Comércio e Indústria (BCI), que foi privatizado no final de 2021, pertencendo actualmente ao Grupo Carrinho e o Banco Prestígio, que apresentou inclusive um produto bancário negativo e viu a sua licença revogada em 30 de Setembro.

Verificou-se igualmente um aumento do crédito a clientes na estrutura global de activos, que passou de 17% para 19% impulsionado por medidas de incentivo emanadas pelo Banco Nacional de Angola (BNA), mas o peso do crédito face ao total dos activos “continua muito longe do verificado noutras economias mundiais”, incluindo no continente africano.

“O facto de as taxas de juro continuarem altas leva a que as empresas recorram a outros tipos de fontes de financiamento”, refere o estudo da Deloitte, que não incluiu nesta análise o BE e o russo VTB.

Em contrapartida, o peso dos títulos e valores mobiliários continua a ser superior ao verificado em mercados mais maduros, fruto da exposição significativa dos bancos nacionais à dívida pública angolana, que, no entanto, desceu 3% face a 2020.

O valor total dos activos dos bancos (excluindo o VTB por falta de informação) equivalia a 17.412.196 milhões de kwanzas (39 mil milhões de euros) no final de 2021, um decréscimo de 5,4% face ao ano precedente, que estará associado à valorização e posterior estabilização do kwanza face ao dólar e ao euro em 2021.

Os cinco maiores bancos (BAI, BFA, BIC, BPC e Atlântico) representavam 65% do total dos activos da banca.

O valor dos capitais próprios ascendeu a 2.076 mil milhões de kwanzas (4 mil milhões de euros) no final de 2021, correspondente a um reforço de 20% face a 2020, tendo-se verificado um aumento, entre 2014 e 2021 próximo dos 293%.

As conclusões do estudo referem que face ao elevado número de bancos que competem no sistema financeiro angolano estes devem definir “modelos de negócio que lhes permitam assegurar um posicionamento diferenciado no mercado, tanto ao nível da segmentação de clientes, como dos produtos e serviços que prestam”.

Sublinha igualmente que o tema da sustentabilidade, quer em termos do cumprimento de indicadores/rácios específicos, como de exigências de reporte regulatórios e em matérias relacionadas com critérios ESG (‘Environmental, Social e Governance’), se torna cada vez mais premente.

Em alguns casos, a incapacidade dos accionistas para corresponder às exigências de capital tem levado o BNA a retirar algumas licenças bancárias (o Prestígio foi o caso mais recente).

O estudo destaca também as expectativas quanto à implementação do Plano de Recuperação e Reestruturação do Banco Económico, “um banco sistémico e que deve voltar a ocupar uma posição de destaque na economia”.

Realça ainda que o regulador “continua a tomar medidas com vista à sustentabilidade do sistema financeiro angolano”, incluindo o aumento do capital social mínimo e a aprovação do regulamento do Fundo de Resolução que vai ser constituído com contribuições dos bancos e do Estado angolano, com o objectivo de acautelar riscos sistémicos.

“O BNA tem vindo a assumir um papel mais intrusivo na supervisão do sector bancário, com a abertura de processos de contravenção por incumprimento da regulamentação em vigor, nomeadamente da legislação cambial, que coloca desafios aos bancos no sentido de robustecer os seus sistemas de controlo interno”, conclui o relatório.

Folha 8 com Lusa

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